Interview

No âmago de um bairro histórico, onde cada pedra parece contar a história de gerações, Armando Artur Santos Ramos, um homem de 74 anos, compartilha experiências de uma vida dedicada à comunidade. O cenário é a antiga coletividade, hoje uma associação transformada pelos ventos do tempo. Armando, com uma voz que carrega tanto a sabedoria quanto as marcas do tempo, começa a relatar o seu percurso neste espaço que o viu nascer, crescer e envelhecer.
"Agora nenhuns", responde Armando quando questionado acerca das suas atividades atuais. Este é o conflito central da narrativa: um homem que um dia foi pilar no seio da vida comunitária agora encontra-se numa fase onde as limitações físicas ditam o ritmo do seu envolvimento. Recorda, com nostalgia, o tempo em que era um ativo membro da coletividade, investido na promoção do desporto e da cultura. "Trabalhei muito na parte desportiva", revela, elucidando o papel fundamental que desempenhou na promoção de atividades que uniam e fortaleciam o bairro. Para Armando, a mudança após o 25 de Abril foi um catalisador para o crescimento e a criação de oportunidades dentro do bairro.
À medida que a entrevista avança, é claro que as memórias de Armando carregam consigo a evolução social e física do bairro. Fala da cooperativa que ajudou a nascer, das modalidades esportivas e do jornalismo que coloriu as décadas passadas. Mas o contraste entre a vitalidade do passado e a realidade presente é acentuado pelas suas limitações de saúde. "Não posso fazer muito mais do que faço. Ou digamos que não faço nada", desabafa Armando, enfatizando a frustração de quem gostaria de continuar a contribuir.
O clímax emerge quando Armando expressa as suas expectativas para o futuro do bairro. Embora não possa mais lutar nas frentes revolucionárias ou empreender nas mudanças físicas, acredita ainda no poder do voto. "Vou contribuir com o meu voto", declara com firmeza, reafirmando a sua presença na comunidade mesmo que de forma mais discreta.
A história de Armando conclui com uma nota emocional. Embora as limitações físicas o impeçam de atuar como no passado, a sua ligação com o bairro permanece inabalável. A sua vida, uma tapeçaria de ações e impacto, ecoa nas ruas e nas pessoas que tocou. Armando deixa-nos com um exemplo de dedicação perene, um testemunho de que a verdadeira influência transcende a ação física.
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